sábado, 14 de julho de 2012

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Cisterna

Eu sempre quis saber (ou qualquer outro verbo irregular terminado em ER) o que era um relicário. Re-li-cá-ri-o... parece nome de lanchonete! E a Moça trabalhava numa que vendia aquele salgado que parece uma lua folhada. Era de uma curiosidade a gosto.

- Um croissant, por favor.

Caminhava até o balcão  e dizia:

- Um croasson... crois... cro... um número 13 para a mesa 7, por favor.

Ah, mas a Moça era persistente como chuva! Sem torrência, violência ou rancor: como chuva.

Eu tinha uma certa ideologia em comer produtos amanteigados. Visto que manteiga é a malemolência da língua dentro dos olhos, a Revolução Biliar cedo ou cedo seria deflagrada.

Esperei um espasmo da boca e marchei, solene, em rumo à trincheira. "Lanches Relicário". Será? Devia ser só um nome da nomenologia cabalística. Entrei. Tudo era réstia de guerra na baía.

- O Senh...
- Moça!
- Moço...
- Moça...

Foi como descarrilhar o coturno. Seus olhos cremosos me cremaram qual um pedido de Buda. Suas esguias mãos guiaram o lápis pelo caderninho personalizado com um verso de Quintana: "Quem faz um poema salva um afogado."

- Um croissant, por favor.

Caminhou até o balcão e disse:

- Um croasson... crois... cro... um número 13 para a mesa 7, por favor.